Quando eu tinha uns cinco anos, vi a minha bisavó Bárbara fazendo sapatinhos de crochê. Perguntei a ela se não podia fazer um para mim também. Minha bisa respondeu que eu ainda era muito pequena, quando crescesse e ficasse grávida, aí faria para mim. Na minha lógica de criança respondi que isso não ia ser possível, porque quando eu fosse adulta, ela já teria morrido. Achando engraçado e já sem argumentos, ela então resolveu fazer três sapatinhos para mim, um azul, um amarelo e um rosa. Minha bisa morreu com 92 anos e como eu mesma previra, eu ainda não havia engravidado. Aliás, ainda nem pensava nisso, era adolescente. Minha mãe guardou estes sapatinhos por 37 anos. Um dia, arrumando suas gavetas, ela decidiu doá-los para a sua empregada. Ela é uma pessoa muito querida e na época estava esperando uma netinha. Na hora a Eliana respondeu: ”Não Dona Alzira, eles são lindos, mas são da Adriana! Espera que ela ainda vai usar no filhinho dela”. Um mês depois eu estava no Rio dando à minha mãe a notícia que, no fundo, ela também queria muito: sua única filha ia ter um bebê. Na foto estou segurando um outro sapatinho, esse foi feito pela minha mãe e também ficaram guardados por quase vinte anos.
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